sábado, 2 de abril de 2011

17/03/2011 09h06 - Atualizado em 17/03/2011 10h38

Após visita de Obama, exploração do pré-sal pode ganhar novo impulso

Petróleo será um dos temas da reunião do presidente dos EUA com Dilma.
Possível acordo de pré-venda pode acelerar produção em novos campos.

Darlan Alvarenga Do G1, em São Paulo
 
      A exploração do pré-sal brasileiro poderá receber novo estímulo caso se concretizem as expectativas em relação à visita ao Brasil do presidente americano, Barack Obama. A questão energética será um dos principais temas do encontro dele com a presidente Dilma Rousseff, e a Casa Branca já expressou seu interesse em comprar petróleo brasileiro em longo prazo.

      Num momento em que o barril atinge preços recordes por causa das revoltas árabes, o Brasil passa a ser visto cada vez mais como uma potencial alternativa para o fornecimento de petróleo.
“Os Estados Unidos são devoradores de petróleo, consomem cerca de um quarto da produção mundial e têm uma necessidade de diversificação das suas fontes de suprimento”, afirma o economista David Zylbersztajn, ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP).

      O Brasil só tem a ganhar. É como abrir uma fábrica e já ter comprador garantido”, avalia Zylbersztajn", David Zylbersztajn.
 
      O Brasil, por sua vez, se destaca por sua estabilidade política, econômica e institucional. “Somos um país muito mais confiável do que a Venezuela, que hoje é a grande fornecedora de petróleo na região para os Estados Unidos”.

      Obama virá acompanhado de uma comitiva de empresários e de vários ministros, incluindo o de Energia, Steven Chu, o que vem gerando otimismo em relação a assinaturas de acordos bilaterais na área de combustíveis, incluindo uma possível negociação de antecipação de compra de petróleo do pré-sal.

      “O Brasil só tem a ganhar. É como abrir uma fábrica e já ter comprador garantido”, avalia Zylbersztajn. “Como a produção no pré-sal só deve decolar daqui a oito ou dez anos, o país já estaria viabilizando com antecedência o escoamento do excedente”.


Mais crédito e investimentos

       Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, um acordo de pré-venda de petróleo ajudaria a criar novas linhas de financiamento e poderia até acelerar o cronograma de produção nos novos poços descobertos.

      “Um acordo nessa linha pode trazer mais investimentos e financiamentos e pode transformar o pré-sal desde já numa realidade”, afirma.

       Segundo a Petrobras, a previsão é de que em 2014 o pré-sal estará produzindo 241 mil barris/dia e chegará a 1 milhão de barris em 2017 e a 1,8 milhão em 2020. Atualmente, a produção média diária da empresa é de 2 milhões de barris, sendo menos de 100 mil na área de pré-sal.

      “Dependendo dos novos investimentos e parcerias e da retomada dos leilões, é factível antecipar essas projeções em dois ou três anos”, afirma Pires. “Os maiores investimentos anunciados para o Brasil nos últimos anos são nos setores de petróleo e gás. As empresas americanas são grandes fornecedoras de bens e serviços e tem todo o interesse em participar no pré-sal”.

      Ele lembra que o Brasil já fez um acordo de pré-venda de petróleo com a China, que em 2008 emprestou US$ 10 bilhões para a Petrobras com a garantia de importar 200 mil barris diários por um período de dez anos.

       Segundo o analista, um acordo do gênero com os EUA representaria também o reconhecimento da maior economia do mundo da importância do Brasil no mercado de petróleo no mundo. “Se o acordo sair, vamos finalmente parar com antiamericanismo tão presente no setor”.


        O Brasil já é auto-suficiente em petróleo, com produção diária de 2,1 milhões de barris, equivalente ao consumo doméstico. Segundo projeção da consultoria IHS Cera, até 2030 o Brasil poderia exportar cerca de 2,5 milhões de barris de petróleo bruto por dia.

Chance de negociar contrapartidas

          Para o professor das Faculdades Rio Branco, Carlos Eduardo Stempniewski, o Brasil deve aproveitar o grande interesse americano no petróleo do pré-sal para negociar contrapartidas em outros temas na área de energia.

       “O Brasil deveria aproveitar o momento em que os Estados Unidos está revendo a sua matriz energética para colocar na mesa os pontos críticos das relações comerciais e tentar negociar um pacote que envolva também questões como barreiras comerciais ao nosso etanol”, afirma.

        O subsídio americano ao etanol à base de milho, aliado a uma tarifa de importação de US$ 0,54 por galão, que acaba sobretaxando o produto brasileiro, é uma discórdia antiga entre os dois países.

        O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura acredita que Brasil e EUA podem avançar no tema, uma vez que ambos os países tem interesse em transformar o etanol numa commodity internacional. “Sendo os Estados Unidos o maior produtor mundial, chama a atenção o fato de ainda não existir nenhuma empresa americana atuando nesse mercado no Brasil”, diz.

         Pires destaca também o potencial do gás natural, que possui grandes reservas no pré-sal, como substituto da energia nuclear na geração de energia elétrica. “Com o terremoto do Japão, a energia nuclear passou a ser patinho feio e o Brasil pode ser um grande fornecedor um dos poucos parceiros confiáveis”, diz.

         Na opinião de Stempniewski, um eventual acordo de pré-venda de petróleo do pré-sal também deveria estar vinculado a garantias de investimentos para a viabilização de novas refinarias. “É preciso perguntar que refinarias do mundo irão processar o petróleo produzido aqui, que é mais denso e possui características específicas”, afirma o especialista, lembrando que hoje o Brasil exporta petróleo bruto e importa produtos derivados por falta de capacidade de processamento
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário